quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A G U A... E TERRA ... SEMIÁRIDO


Por falta de água CAGEPA desliga bombas e cidades do sertão pode ter um colapso a qualquer momento

■ qua, 5 de fevereiro de 2014

Segundo informações repassadas a redação , as bombas de abastecimento das centrais de tratamento de agua de São Bento, Pombal e Catolé do Rocha foram desligadas devido ao baixo nível dos rios, no caso de São Bento o nível do Rio Piranhas está tão baixo que as bombas não conseguem captar água.

Com o desligamento das bombas a cidade pode ter um colapso a qualquer momento.
A ANA ( Agencia Nacional das Aguas) determinou no fim do ano passado os dias e horas que os irrigantes da região poderiam ligar suas bombas para irrigar suas plantações porém não foi obedecidas as determinações estipuladas pela agencia.


As comportas do açude de Coremas estão fechadas devido ao baixo volume de água, o nordestino está enfrentando uma das maiores secas que se tem historia.



A redação
  fonte:www.saobentoemfoco.com.br
Semiárido
 Clique na imagem para ver o mapa ampliado
Segundo dados oficiais do Ministério da Integração, o Semiárido brasileiro abrange uma área de 969.589,4 km² e compreende 1.133 municípios de nove estados do Brasil: Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. A ASA atua em todos esses estados e também no Maranhão. (Veja aqui a relação completa dos municípios que compõem  a nova delimitação do  Semiárido)

Nessa região, vivem 22 milhões de pessoas, que representam 11,8% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o Semiárido mais populoso do planeta.

O Semiárido tem a maior parte do seu território coberto pela Caatinga -, único bioma exclusivamente brasileiro -, rico em espécies endêmicas, ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do mundo. A composição florística da Caatinga não é uniforme em toda a sua extensão. Apresenta grande variedade de paisagens, de espécies animal e vegetal, nativas e adaptadas, com alto potencial e que garantem a sobrevivência das famílias agricultoras da região.

Essa heterogeneidade tem levado alguns autores a utilizar a expressão – as caatingas. Na sua pluralidade pode-se falar em pelo menos 12 tipos de caatingas, que chamam atenção especial pelos exemplos incríveis de adaptações ao habitat.

Outra característica do Semiárido brasileiro é o déficit hídrico. Mas, isso não significa falta de água. Pelo contrário, é o semiárido mais chuvoso do planeta. A média pluviométrica vai de 200 mm a 800 mm anuais, dependendo da região. Porém, as chuvas são irregulares no tempo e no espaço. Além disso, a quantidade de chuva é menor do que o índice de evaporação, que é de 3 mil mm/ano, ou seja, a evaporação é três vezes maior do que a de chuva que cai.

Isso significa que as famílias precisam se preparar para a chegada da chuva. Ter reservatórios para captar e armazenar água é fundamental para garantir segurança hídrica no período de estiagem, a exemplo das cisternas domésticas, cisternas-calçadão, barragens subterrâneas e dos tanques de pedra.

Indicadores sociais

Apesar do enorme potencial da natureza e do seu povo, o Semiárido é marcado por grandes desigualdades sociais. Segundo o Ministério da Integração Nacional mais da metade (58%) da população pobre do país vive na região. Estudos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) demonstram que 67,4% das crianças e adolescentes no Semiárido são afetados pela pobreza¹. São quase nove milhões de crianças e adolescentes desprovidos dos direitos humanos e sociais mais básicos, e dos elementos indispensáveis ao seu desenvolvimento pleno.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) no Semiárido é considerado baixo para aproximadamente 82% dos municípios, que possuem IDH até 0,65. O que significa um déficit em relação aos indicadores de renda, educação e longevidade para 62% da população do Semiárido².

Renda

As contradições e injustiças que permeiam a região podem ser percebidas inclusive no acesso à renda, que reflete também uma forte desigualdade de gênero. Metade da população no Semiárido, ou mais de dez milhões de pessoas, não possui renda ou tem como única fonte de rendimento os benefícios governamentais. Na sua maioria (59,5%) mulheres.

Os que dispõem de até um salário mínimo mensal somam mais de cinco milhões de pessoas (31,4%), sendo 47% mulheres. Enquanto isso, apenas 5,5% dispõem de uma renda entre dois a cinco salários mínimos, a maioria (67%) homens, e dos 0,15% com renda acima de 30 salários mínimos apenas 18% são mulheres³.

O Índice de Gini, que mede o nível de desigualdade a partir da renda, está acima de 0,60 para mais de 32% dos municípios do Semiárido, demonstrativo de uma elevada concentração da renda na região4. Quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade.

Essa realidade metrificada e calculada pelas estatísticas é o reflexo de milhões de vidas que lutam cotidianamente sem o acesso aos direitos sociais e humanos mais fundamentais: aqui se inclui o direito à água. Uma realidade que exige transformações urgentes.

Êxodo

A população rural5, de mais de oito milhões e meio de pessoas, reduziu 5,7% em relação ao ano de 20006, e hoje representa apenas 38% da população na região. Foram mais de 520 mil pessoas que deixaram de viver no Semiárido rural nos últimos dez anos7. Estes números acompanham uma tendência no país, onde a população rural caiu em 6,3% no período analisado.
Esse dado reflete, também, que o Brasil ainda está aquém de garantir as condições necessárias para a opção das famílias de permanência no campo, em especial no Semiárido. Entre os principais elementos nesse processo está a elevada concentração de terras e de água.

Terra

Caracterizada por prolongado período seco, irregularidade de chuvas, semiaridez do clima e alta taxa de evapotranspiração, a região é marcada por uma histórica estrutura concentradora de renda, riquezas, água e terra.

No Semiárido existem mais de um milhão e setecentos mil estabelecimentos agropecuários (33% em relação ao total no país8. Destes, 73% são proprietários que concentram 93% das terras da agropecuária; enquanto isso, 27% dos estabelecimentos agropecuários no Semiárido encontram-se em situação precarizada na relação com a terra, dispondo de apenas 7% da área.

Aqui se inclui o grupo de assentados/as sem titulação definitiva, com 2,8% do número de estabelecimentos; os arrendatários, com 3,7%; os parceiros, com 3,9% e os ocupantes com 11% dos estabelecimentos agropecuários. Soma-se a estes o grupo de produtores/as sem área no Semiárido, havendo mais de 92 mil famílias agricultoras nessa condição (5,4% dos estabelecimentos agropecuários), representando 36,3% das famílias agricultoras sem área do Brasil concentradas no Semiárido.

Água

Essa concentração rebate também na questão da água, apresentando reflexos em diversas dimensões da vida das pessoas. Atualmente 67% das famílias rurais nos estados que compõem o Semiárido não possuem acesso à rede geral de abastecimento de água, sendo que 43% utilizam poços ou nascentes, e 24% utilizam outras formas de acessar a água9, que compreendem inclusive, buscas em fontes distantes, com longas caminhadas diárias10, para o uso de uma água muitas vezes inadequada ao consumo humano.

Nesse contexto, a dificuldade no acesso à água, que em parte seria resultado do índice pluviométrico e da elevada taxa de evapotranspiração, é consequência, mais do que tudo, de uma política concentradora da água, através da qual uns poucos e privilegiados detêm a posse e uso de quase toda a água do Semiárido, enquanto outros morrem de sede.
Em um Semiárido com inúmeras desigualdades, são também múltiplas as alternativas e estratégias possíveis para a garantia do acesso à água por suas populações, muitas construídas por elas próprias. Na luta diária pela sobrevivência, mulheres e homens, portadores de um vasto saber adquirido a partir da observação da natureza ao longo dos tempos, aprenderam a arte de conviver com o meio ambiente olhando os ciclos das chuvas, o comportamento das plantas, dos animais e as características do clima e do solo.
Foi esse conhecimento que construiu as melhores técnicas de convivência com o Semiárido, a partir da iniciativa da estocagem, que tem sido garantida a partir da construção de tecnologias sociais para captação e armazenamento da água da chuva.
1 Unicef, 2011.
2 SILVA, 2008.
3 IBGE, Censo Demográfico 2000. Considerando apenas pessoas acima de 10 anos de idade. Salário mínimo considerado da época: R$ 151,00 (cento e cinquenta e um reais).
4 No Nordeste são 29% dos municípios nessa faixa, e a média nacional é de pouco mais de 21% dos municípios.
5 Estudos desenvolvidos pelo IICA (A Nova Cara da Pobreza Rural no Brasil: transformações, perfil e desafios para as políticas públicas) mostram versões diferentes sobre o tamanho da população no meio rural no Brasil.
6 No Censo 2000, a população rural no Semiárido representava 43,6% de sua população. Na década anterior-1991 a 2000- a população rural também decresceu em 8,62%.
7 Grosso modo, sem considerar as taxas de nascimento e óbito. No ano 2000 a população rural no Semiárido era de 9.104.511 habitantes, e em 2010 reduziu para 8.584.502 pessoas. (IBGE, Censo Demográfico).
IBGE, Censo Agropecuário 2006.
IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2007.
10 Estudos da Embrapa Semiárido apontam que no Semiárido uma pessoa pode passar até 36 dias por ano exclusivamente em busca de água.
Secas urbanas




Roberto Malvezzi (Gogó) - Membro da Comissão Pastoral da Terra na Bahia
05/02/2014
Os reservatórios de água doce que abastecem S. Paulo e seu grande entorno estão em seu menor nível dos últimos 80 anos. Em Los Angeles, a escassez de água devido à baixa pluviosidade é a maior dos últimos 100 anos. Nós aqui no Nordeste estamos saindo – bem devagar, é verdade – da pior estiagem dos últimos 50 anos.

A novidade é que essas estiagens – há um debate global se já são agravadas pelas mudanças climáticas – agora não impactam apenas o meio rural, mas o meio urbano. Nessas concentrações estão dezenas de milhões de pessoas dependentes da água que sai das torneiras.

Fomos deseducados nos últimos anos a achar que água vem das paredes de nossas casas.  O consumo absurdo de 70% da água doce para fins de agricultura, 20% para a indústria e 10% para o uso doméstico são constatados, mas pouco questionados. Até os movimentos sociais defendem cegamente a irrigação como modelo de saída para a agricultura aqui no Nordeste. E nessa estiagem que passamos foi exatamente o uso para irrigação que secou o açude de Mirorós, na região de Irecê, obrigando o governo a fazer 100 km de adutora em poucos meses para que a população urbana não entrasse em colapso hídrico.

É provável que as chuvas voltem e os reservatórios recuperem volumes suficientes para atravessar o ano. Os americanos de Los Angeles, que já buscam a água para a sua cidade de outros cantos da Califórnia – é o modelo exaltado e copiado aqui na região de Juazeiro-Petrolina -, com um histórico cheio de conflitos e disputas pela água, agora falam em buscar a água ainda mais longe ou partir para a problemática e cara dessalinização da água marinha.

Os paulistanos que já buscam sua água na bacia do Piracicaba, agora estão falando em racionamento, compensação social e outros estímulos para a poupança de água, além de buscar mais água na bacia do Ribeira do Iguape.

Porém, se todos os santos não ajudarem – nessas horas um técnico da Chesf aqui no São Francisco apelava até para São Pedro -, poderemos ver a falência de cidades que em tudo dependem da água encanada. Sem ela não há indústria, não há serviços, não há como viver dentro de um apartamento. Ficar preso a um apartamento sob o fedor das pias cheias, dos vasos sanitários entupidos, da sujeira das roupas, do banho que não se pode ter, do calor infernal e falta de água para beber seria um  inferno. Em pouco tempo o mercado da água engarrafada seria insuficiente.

O problema vem de longe e as advertências também. Já na Campanha da Fraternidade da Água, em 2004, sabíamos que um paulistano tem média menos água que um Nordestino. Isso mesmo. Devido à alta concentração urbana, para todos os fins, cada paulistano tem em média pouco mais de 200 m3 de água ao ano, enquanto no Piauí – embora imobilizados no lençol freático do Gurguéia – cada piauiense tem em média nove mil m3 de água por ano. O acesso é outra questão.

Nos momentos de aperto todos falam no aproveitamento da água de chuva, no reuso, na utilização racional, no combate ao desperdício, em novos métodos de irrigação, mas, sem dar consequências a essas práticas, exceto a sociedade civil do Semiárido.

A humanidade não quer aprender com suas tragédias. A da água é uma das mais visíveis há décadas e prosseguimos como se ela não existisse. Contudo, teremos que aprender a lidar diferentemente com a água, seja por bem, ou por tragédias socioambientais anunciadas. 




Ministro do Paraguai conhece experiências da ASA em Pernambuco
"Principais aprendizados são o empoderamento das famílias, a participação cidadã e o desenho do projeto", diz governo paraguaio
Daniel Ferreira - Assessoria de Comunicação da Diocese de Pesqueira
Buíque - PE
04/02/2014
José Sévilo de Araújo (esq) foi um dos agricultores que conversou com o ministro Joaquim Roa (dir) | Foto: Fabiana Francelino
O ministro de Emergência Nacional do Paraguai, Joaquim Roa, e uma delegação do ministério paraguaio visitaram e trocaram experiências de convivência com o Semiárido com famílias agricultoras na comunidade de Cafundó, município de Buíque, no Agreste de Pernambuco. O intercâmbio aconteceu neste mês de janeiro devido a uma ação conjunta entre a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), Diocese de Pesqueira e Fundação AVINA.

Na visita, o ministro conheceu algumas tecnologias sociais de convivência com o Semiárido desenvolvidas pela ASA, como as cisternas de placas de 16 mil litros d’água, cisterna-calçadão de 52 mil litros, barragem subterrânea e bomba d’água popular. Na ocasião, Joaquim Roa concedeu um entrevista à Cáritas Diocesana de Pesqueira, confira: 

Cáritas -  Quais percepções sobre as experiências visitadas de convivência com o Semiárido?

Joaquim Roa
– Estou muito impressionado com o empoderamento das famílias em relação ao projeto. Algo muito difícil da gente conseguir isso com as comunidades lá no Paraguai. Tivemos oportunidade de conversar com as famílias agricultoras beneficiadas. As tecnologias sociais são fáceis de copiar, podemos levar sem problema nenhum. O processo, a participação e o empoderamento dos atores sociais são importantes. A participação cidadã dá um realce único ao projeto. Vamos replicar o projeto, mas queremos saber tudo, principalmente o componente social, onde está o êxito do projeto. Vimos as pessoas terem acesso à agua. A parceria da ASA, Fundação AVINA e governos é um exemplo para nós replicarmos no Paraguai. Vamos fazer o impossível para replicar essa proposta numa região de lá, que chamamos de Chaco Paraguaio onde, entra ano e sai ano, é afetado pela ausência da água. E o que mais me chamou à atenção também foi a expressão convivência com a seca.  É isso aí que temos que apontar como Governo, com estratégias e com políticas locais envolvendo a sociedade civil e os governos locais e melhorando a vida das famílias que vivem em comunidades carentes de água.

Cáritas - No Paraguai, há a região do Chaco. Quais as relações e convergências dessa região com o Semiárido brasileiro?

Joaquim
- Eu estou surpreendido, porque as semelhanças são quase as mesmas, exceto pela topografia.  Já no Chaco temos apenas 3% de terreno plano, diferente no Semiárido que tem uma topografia diferente. Mas, as necessidades são as mesmas. A ausência de água é igual. Temos população também no Chaco. Então, todas as variáveis são iguais. Isso nos indica que facilmente, trabalhando e com a cooperação levando a experiência daqui [do Semiárido] vamos vencer a seca no Paraguai.

Cáritas -Especificamente em Pernambuco, as ações de convivência tornaram-se políticas e programa de Estado. Esse seria também o caminho para o Governo Paraguaio?

Joaquim
– Acho que sim. O povo sem políticas públicas não tem jeito. Não tem direcionamento, não tem estratégia nenhuma. Vamos apontar para isso, que sejam transformadas em políticas públicas partindo de baixo para cima. Que essas políticas virem também políticas de Estado finalmente.

Cáritas - Quais as lições e aprendizagens dessas experiências que o senhor leva para o Paraguai?

Joaquim -
São muitas. Mas, os principais aprendizados são o empoderamento das famílias, a participação cidadã e o desenho do projeto, de baixo para cima. É isso que temos que ter em conta: o envolvimento dos líderes. É esse desenho que temos que ter como Governo. Os desenhos dos projetos devem vir da comunidade para cima. São eles [os agricultores] que conhecem tanto as necessidades como as tecnologias apropriadas para eles. Então, não precisamos inventar a pólvora. Falei com as famílias agricultoras e aprendi muito com elas. Estamos voltando com ideia de conversar com todos os prefeitos da região do Chaco Paraguaio e até, inclusive, com o governador e levar o desenho do projeto, e eles verem o êxito do projeto. É isso que estou levando: um grande aprendizado.

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