Fim do auxilio emergencial agravará desemprego e pobreza. ‘Cenário triste em 2021’
Após resistir a benefício de R$ 600, reduzir a R$ 300 e decretar fim do auxílio emergencial, governo levará economia a mais desemprego e castigará informais.
São Paulo – O desemprego tem batido recordes e já atinge mais de 14 milhões de brasileiros. Segundo dados do IBGE, de maio a novembro houve um acréscimo no número de desempregados na ordem de 4 milhões. E o legado de 2020 será muito negativo, apontando para um triste cenário nas condições do mercado trabalho, particularmente no desemprego.
“A gente olhando os dados do IBGE nota que a partir de setembro piora a taxa de desemprego e aumenta, portanto, a desocupação. E isso deve permanecer em 2021”, alerta o diretor-adjunto do Dieese, José Silvestre. Segundo ele, dois aspectos fundamentais devem influir nessa questão. Um, a perspectiva do fim do auxílio emergencial; e outro o afrouxamento do isolamento social, que faz com que as pessoas voltem a procurar emprego.
A taxa de desemprego manteve-se estável até por volta de agosto, setembro também em razão disso: as pessoas não tinham perspectiva, e enfrentavam restrições para sair e para procurar emprego. “À medida que tem esse afrouxamento do isolamento social, as pessoas voltam a procurar, e evidentemente com muitas dificuldades para encontrar”, diz Silvestre, em entrevista à Rádio Brasil Atual. “Então, esses dois aspectos – fim do auxílio e aumento da procura – contribuem em muito para o aumento do desemprego. E os indicadores e projeções de crescimento da economia para 2021 apontam para uma insuficiência na capacidade do país de criar empregos na magnitude necessária para amenizar a situação, sobretudo das pessoas que estão no mercado informal.”
Fim do auxílio emergencial e endividamento
A situação de informalidade é estrutural do mercado de trabalho brasileiro, se agravou após a “reforma” trabalhista de 2017 e, como mostram os dados do IBGE, ficou escancarada com o crescimento maior do desemprego entre os trabalhadores informais. “Quando ela (reforma) entra em vigor, em novembro de 2017, a gente observa uma piora das condições de trabalho e uma precarização do mercado de trabalho, que vai se aprofundando com a crise da pandemia a partir de março, quando a gente vê uma evolução informalidade”, diz o técnico do Dieese, observando que o home office é um recurso restrito essencialmente aos trabalhadores do mercado formal com ocupações que permitem o trabalho remoto.
Para Silvestre, é provável que o fim do auxílio emergencial agrave o endividamento das famílias. “Isso certamente vai afetar a rendimento das famílias, e o consumo. Assim, deve aumentar o endividamento dessas pessoas, porque elas não têm perspectivas. Com o fim do auxílio emergencial, e sem emprego, há uma situação crítica. Vai também aumentar também a desigualdade, vai aumentar a miséria. Não há dúvida que o auxílio emergencial teve contribuição importante inclusive para que a queda na economia não fosse tão acentuada. Porque esses recursos foram fundamentalmente destinados ao consumo. As pessoas precisam comer. Certamente vamos assistir a uma piora da miséria e da pobreza, como já está sendo projetado.”
FONTE:auxílio emergencial, Desemprego, dieese, rádio brasil atual.
Sem auxílio emergencial, Belluzzo prevê ‘danos consideráveis’ à economia em 2021
Economista destaca que, sem o auxílio emergencial, não teria havido a recuperação modesta no terceiro trimestre, utilizada pelo governo para justificar o fim do benefício.
São Paulo – A pandemia do novo coronavírus provocou o rompimento de todo o circuito de formação de renda e as perspectivas para a economia do país em 2021 não são animadoras. Em 2020, as empresas pararam de produzir, o comércio fechou e o desemprego atinge mais de 14 milhões de brasileiros. Ao mesmo tempo, o real sofreu forte desvalorização frente ao dólar. Com o desmantelamento dos estoques reguladores, houve um “choque de oferta” na produção agrícola, que resultou no aumento da inflação dos alimentos.
Segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a atuação do governo foi “muito frágil” para contrabalançar os efeitos econômicos da pandemia. A exceção foi o auxílio emergencial, iniciativa do Congresso Nacional.
Agora com o avanço da segunda onda da doença e o fim do auxílio, as perspectivas para o próximo ano não são nem um pouco otimistas. “Sobre 2021, diria que o recrudescimento da pandemia e o corte do auxílio emergencial vão causar danos consideráveis à economia”, afirmou.
Em entrevista a Maria Teresa Cruz, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (28), o economista criticou a visão fiscalista da equipe do ministro da economia, Paulo Guedes. A recuperação de 7,7% no terceiro trimestre, após tombo de 9,7% entre abril e junho – no auge da pandemia –, justificaria o fim do benefício. “Só que essa recuperação foi em função do auxílio. Se não tivéssemos o auxílio emergencial, não teria ocorrido nada”, afirmou Belluzzo.
Guedes “retrógrado”
Ele lembrou que, apesar dessa tímida recuperação em função do auxílio, os níveis de atividade econômica ainda se encontram em patamares inferiores a 2014. Além disso, mais do que o custo mensal de cerca de R$ 50 bilhões, é preciso considerar o efeito multiplicador no consumo e na recomposição parcial da renda das famílias.
Belluzzo afirmou, ainda, que Guedes e sua equipe são “retrógrados” e “ignoram” no debate econômico as ações adotadas no resto do mundo. Estados Unidos e Europa, por exemplo, têm ampliado o endividamento como forma de conter os efeitos da crise. Já no Brasil, Guedes e sua equipe apostam na “austeridade expansionista”, acreditando que o investimento privado virá a partir da contenção dos gastos públicos. “Você ouve Paulo Guedes falando e acha que ele está no tempo das cavernas. Ele é retrógrado”, classificou.